Mais conhecido por Zeca Afonso, foi um dos cantores e compositores de música de intervenção português mais importantes do nosso Portugal.
Escreveu, entre outras coisas, música de crítica à ditadura fascista que vigorou em Portugal desde 1933 até 1974. Zeca foi um compositor notável, soube conciliar a música popular portuguesa e os temas tradicionais com a palavra de protesto, na recusa permanente do caminho mais fácil, da acomodação, no combate ao fascismo salazarento, na denúncia dos oportunistas.
Cronologia
1929 – Nasce em Aveiro, no dia 2 de Agosto, José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos.
1956 – Foi marcado pela candidatura de Humberto Delgado, nas eleições presidenciais. Zeca Afonso acompanhou de perto a campanha eleitoral.
1963 – Grava "Os Vampiros", um dos temas fundamentais da sua carreira.
1970 – Grava em Londres "Traz outro amigo também". Rui Pato impedido de sair de Portugal é substituído na viola por Carlos Correia (Boris).
1973 – Em Abril de 1973 esteve preso durante vinte dias em Caxias, onde escreve entre outros textos “Era um redondo vocábulo”. Pelo Natal publica o disco "Venham Mais Cinco" gravado em Paris, de novo sob a direcção de José Mário Branco. Foi o último disco de José Afonso antes da revolução de Abril.
1974 – No dia 24 de Março José Afonso participa no I Encontro da Canção Portuguesa, em Lisboa. Debaixo do olhar atento da PIDE, passaram pelo palco do Coliseu alguns dos nomes mais sonantes do canto de intervenção, como Adriano Correia de Oliveira, José Barata Moura, Fernando Tordo, José Carlos Ary dos Santos, Fausto, Vitorino. Terminam a sessão com «Grândola, Vila Morena». Militares do MFA estão entre a assistência.
No dia do espectáculo, a censura avisara a Casa de Imprensa, organizadora do evento, de que eram proibidas as representações de «Venham Mais Cinco», «Menina dos Olhos Tristes», «A Morte Saiu à Rua» e «Gastão Era Perfeito». Curiosamente, a «Grândola Vila Morena» era autorizada.
No dia 25 de Abril é derrubado o regime fascista de Marcelo Caetano, pelo Movimento das Forças Armadas. “Grândola Vila Morena” é escolhida como senha para o arranque do movimento, passando na madrugada de 25 na Rádio Renascença.
1982 – Começam a conhecer-se os primeiros sintomas da doença do cantor, uma esclerose lateral amiotrófica. Trata-se, aparentemente, de um vírus instalado na espinal-medula que, de uma forma progressiva, destrói o tecido muscular e, normalmente, conduz à morte por asfixia. Actua em Brouges no Festival de Printemps.
1983 – A 29 de Janeiro, com José Afonso já em dificuldades, dá um espectáculo no Coliseu dos Recreios, para uma sala completamente cheia.
Do espectáculo resultará o disco "José Afonso ao vivo no Coliseu".
No Natal desse ano, grava “Como Se Fora Seu Filho”, o seu testamento político.
O Presidente da República, general Ramalho Eanes, atribui a José Afonso a Ordem da Liberdade, mas o cantor recusa-se a preencher o formulário.
1984 – A doença agrava-se. ”Livra-te do medo, estórias e andanças de Zeca Afonso” de José Salvador, é publicado pela Regra do Jogo.
1985 – Sai o seu último álbum, "Galinhas do Mato" com arranjos musicais de Júlio Pereira e Fausto. José Afonso só canta algumas faixas, devido ao seu estado de saúde estar prejudicado pela doença de que sofre.
1994 - O Presidente da República Mário Soares tentou de novo condecorar, postumamente, José Afonso com a Ordem da Liberdade, mas a mulher, Zélia, recusou, alegando que se José Afonso não desejou a distinção em vida, também não seria após a sua morte que seria condecorado.
A Morte Saiu á Rua
José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, às 3 horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica, diagnosticada em 1982. O funeral realizou-se no dia seguinte, com mais de 30 mil pessoas, da Escola Secundária de S. Julião para o cemitério da Senhora da Piedade, em Setúbal, onde a urna foi depositada às 17h30 na sepultura 1606 do quadro 19. O funeral demorou duas horas a percorrer 1300 metros. Envolvida por um pano vermelho sem qualquer símbolo, como pedira, a urna foi transportada, entre outros, por Sérgio Godinho, Júlio Pereira, José Mário Branco, Luís Cília e Francisco Fanhais.
Zeca Afonso foi um revolucionário que nunca deixou de perseguir aquilo que sonhou.
Na sua Autobiografia, José Afonso afirma:
"Não me arrependo de nada do que fiz. Mais: eu sou aquilo que fiz. Embora com reservas acreditava o suficiente no que estava a fazer, e isso é o que fica. Quando as pessoas param há como que um pacto implicito com o inimigo, tanto no campo político como no campo estético e cultural. E, por vezes, o inimigo somos nós próprios, a nossa própria consciencia e os alibis de que nos servimos para justificar a modorra e o abandono dos campos de luta."
" Admito que a revolução seja uma utopia, mas no meu dia a dia procuro comportar-me como se ela fosse tangível. Continuo a pensar que devemos lutar onde exista opressão, seja a que nível for."
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