sábado, 20 de setembro de 2008

UM HOMEM DEITADO NO CHÃO

Do chão se fez um colchão, das suas angústias, um sonho em vão... enquanto por ti passa tanta gente, apenas a ver um mendigo deitado no chão.

Mendigo e vagabundo, sujo, hirsuto, fedorento, vestido de farrapos como embrulho, protegido por artefactos que são também uma colagem de dejectos, os mendigos aumentam frequentemente a sua claudicação pelo uso do álcool como único viático, único vigorante permitido para atravessar as provas do frio, da fome, da noite, da solidão, do abandono e do isolamento.
O vinho dá ao corpo algo com que se sustentar e se aquecer, deitado no chão, confundido com a calçada da Ponte Romana, embriagado pelo álcool, o mendigo não se limita apenas a alguém que define sua privação de um domicílio fixo, é também aquele cujo único domicílio fixo é o corpo vivido como maldição.

Falsos, momentâneos gostos
Há neste mundo mesquinho:
Mas no Céu há bens sem conto...
Pergunta o bêbado: - "E vinho?"

(Bocage)

POR QUE EXISTEM OS MENDIGOS?
A questão de mendicante aparece com a divisão da sociedade entre pobres e ricos. Com o aumento desse diferencial, os pobres vão à miséria e os ricos ficam cada vez mais ricos; aí, levanta-se o estigma entre o vestido, asseado, e o que está sujo e fedorento, que provoca a sensibilidade do sentimento, e a repulsa daquele que não quer sentir o mau cheiro.

A princípio, o surgimento dos mendigos advém de coisas simples, isto é, pessoas pobres que não têm como se alimentar; não acham outro meio se não pedir, proporcionando condições para que aquele ser humano pudesse saciar a sua fome, ou procurar os meios de sobrevivência, isto é, uma actividade qualquer para executar.

A sobrevivência do mendigo é muito difícil, porque ele é pobre, muitas vezes cheira mal, não tem o que comer e vive a pedir para poder passar mais alguns momentos sobre a terra. Sai pela manhã, a pedir pão, roupa velha, comida em geral, e principalmente alguma moeda que vai servir para tomar um copo de vinho ou uma dose de cachaça na taberna da esquina e de copo em copo, fica bêbado, aumentando ainda mais o estigma daqueles que detestam mendigos.

Mas, porque surge o mendigo? Será a preguiça como diz o bem empregado? Será a fuga do campo, que não consegue colocação em um emprego digno, mesmo desqualificado? Será o desemprego? Será a distribuição de rendimentos, que exclui do mercado de trabalho, aqueles de idade avançada? Será a extensão da crise financeira internacional?

Estas e outras perguntas fazem parte das inquietações que deixa a sociedade apavorada e que traz o Mundo atarantado.

O agravamento das prestações mensais, pagas pelos empréstimos pedidos, para o crédito a habitação, não para de subir. A taxa de juro tem atingido os valores mais altos de sempre. E isso dói, como se sabe.

Ao se fazer uma meditação sobre essas patologias, é que pensei em detalhar um pouco mais a situação dos mendigos, que aumentam em Chaves, constituindo um problema de distribuição de rendimentos e desprezo aos mais carentes.

Há razão para se ter medo e deixar a sociedade apavorada, devido à insegurança que as famílias enfrentam nos dias de hoje, cujos exemplos e correlações não têm dado conta de uma situação tão difícil que se vive na actualidade e a miséria, encapotada, que já se vive em algumas famílias do Concelho de Chaves.

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